A Importância da Psicologia para a Fibrose Cística
escrito pela Psicóloga Juliana Laux
Meu nome é Juliana Laux, sou Psicóloga (PUCRS) e mestranda em Psicologia Clínica (Unisinos). Durante a graduação em psicologia passei pelo estágio no HCPA (Hospital de Clínicas de Porto Alegre) acompanhando bebês, crianças, adolescentes, adultos e seus familiares que vivem com a Fibrose Cística (FC).
Tive o prazer em acompanhar, aprender e intervir durante um ano. O tempo que estive vivendo nessa realidade foi um dos mais bonitos da minha vida, mas também o mais difícil. Foi o momento em que eu mais aprendi sobre a VIDA, sobre o início, meio e fim. Essas etapas da vida são demonstradas de forma intensa pelas pessoas com FC e que elas necessitam falar sobre os sentimentos despertados no decorrer desses momentos.
Por isso, a necessidade de escutar torna-se uma das principais atividades para o terapeuta. Quem vive com FC, começa a pensar, e refletir sobre a vida muito cedo podendo ser pelas dificuldades que a doença traz com os tratamentos diários, as dificuldades de manejo das exacerbações, das hospitalizações etc. Apesar da vida exigir muito das pessoas com FC, quem se conecta com a esperança consegue observar que existe muita vida em cada pessoa com FC.
Os avanços da tecnologia e as pesquisas na área da saúde têm contribuído para o aumento da expectativa de vida das pessoas que vivem com FC, muitas delas advindas dos estudos psicológicos no que se refere ao manejo das emoções para conciliar com a adesão ao tratamento.
O papel da psicologia é de vincular o paciente no contexto da equipe multiprofissional, facilitando a comunicação entre eles a partir da escuta sensível explorando emoções, funcionamento, capacidade de vinculo e afetivo.
Outra possibilidade de intervenção psicoterapêutica é a busca por motivações para o planejamento de vida. Durante os atendimentos, é incentivada a reflexão na comunicação em relação às dificuldades com a adesão ao tratamento, suas emoções frente aos vínculos afetivos e/ou familiares.
A psicologia poderá possibilitar formas de enfrentamento mais saudáveis com a ajuda da comunicação entre paciente-família, família-paciente, paciente-médico e paciente-equipe multidisciplinar. Em muitos casos, a própria doença não é motivo para os atendimentos, e sim dificuldades de relacionamentos, de autonomia e de autoconhecimento.
Já em outros casos, é percebido nos pacientes com FC sintomas depressivos e de ansiedade, aspectos importantes para a psicologia avaliar e intervir com propósito de facilitar a adesão ao tratamento e consequentemente buscar melhor qualidade de vida.
O papel do psicoterapeuta também é estimular a reflexão auxiliando o paciente obter as melhores formas de enfrentamento das dificuldades de acordo com limitações.
O tratamento e a evolução da FC resultam em difíceis experiências no curso do desenvolvimento natural do indivíduo e consequentemente na sua família. Além disso, a psicologia pode auxiliar na compreensão e aceitação da doença pela qual nasceu, fazendo com que o paciente possa fazer escolhas em relação ao seu tratamento, enfrentando a realidade do seu ambiente de vida, gerando consciência das emoções.
Para finalizar, deixo um trecho da autora Brené Brown sobre a nossa existência de estar vulnerável, e de ser responsável por escolhas que não realizamos:
“Vulnerabilidade não é fraqueza; e a incerteza, os riscos e a exposição emocional que enfrentamos todos os dias não são opcionais. Nossa única escolha tem a ver com o compromisso. A vontade de assumir os riscos e de se comprometer com a nossa vulnerabilidade determina o alcance de nossa coragem e a clareza de nosso propósito. Por outro lado, o nível em que nos protegemos de ficar vulneráveis é uma medida de nosso medo e de nosso isolamento em relação à vida.”